
O que é yoga (parte 2)
Quando eu falo “yoga” talvez você pense automaticamente nas posturas físicas, mas vamos deixar essa visão de lado para abrirmos espaço para um olhar mais profundo e essencial sobre o que realmente é yoga.
Na verdade, o que a gente vê sobre yoga é apenas uma parcela pequenininha do que realmente é o processo de yoga. Percebeu que eu associei a palavra “processo” à yoga? Tem uma razão pra isso.
Yoga é uma das seis escolas filosóficas védicas da Índia. Todas elas tem a responsabilidade por um assunto específico e se atém em esmiuçar com cuidado o tema que lhe corresponde.
Cada uma das escolas possui um texto que reúne informações essenciais sobre o que vem a ser aquele caminho de pensamento e, esse texto, é escrito em forma de sutra, que é uma maneira muito específica de escrita com o objetivo de inserir apenas as palavras fundamentais para a compreensão da frase.
Então todas as palavras de um sutra possuem um significado e precisam ser interpretadas com muita atenção.
No 2º verso do yogasutra é dito que yoga é o direcionamento da atividade mental para um único objeto. Essa habilidade precisa ser desenvolvida gradualmente, porque existem inúmeros estímulos interessantes que chamam nossa atenção. Dividir a atenção com várias coisas ao mesmo tempo diminui a qualidade de foco e fica difícil nos relacionarmos com presença e inteireza.
Além dos estímulos externos que chamam atenção dos sentidos, existem os movimentos internos dos pensamentos e sentimentos, que nós precisamos lidar. Quando nos relacionamos com algo, estamos também nos relacionando com nossos conteúdos internos, nossas ideias, opiniões e condicionamentos pré-existentes.
Sem treino, é muito desafiador a mente conseguir administrar todos esses estímulos e conteúdos, portanto o nossa visão fica prejudicada, como se estivesse embaçada, não é possível ver o objeto em sua completude e com as suas verdadeiras características.
O problema é que nossas escolhas estão baseadas nessa visão confusa e enganosa.
O que vemos em uma situação do dia a dia tem muito mais a ver com nossas projeções internas, nossos medos, expectativas e desejos do que a verdade que se mostra.
Yoga é o processo de reduzir esse engano para nos relacionarmos com a verdade e fazer escolhas melhores, com mais liberdade. Enquanto essa ignorância não for reduzida, não há liberdade, porque iremos repetir os padrões mentais de forma inconsciente.
Yoga fala sobre a mente, como uma psicologia, porque a mente é o nosso problema, mas também é a nossa solução. É através da mente que podemos nos conhecer e mudar nossos comportamentos e mentalidade. A mente que se prende aos obstáculos internos e é ela que tem a capacidade de nos libertar deles por meio de um olhar mais profundo e amplo.
Aos poucos vamos desfazendo velhos padrões mentais e substituindo por novos e melhores, isso leva um tempo e requer esforços estratégicos de estudo (dos textos e de si mesma), de prática (física, respiratória e mental) e de entrega (abrir mão de resultados específicos).
Para muitas pessoas, yoga é algo exótico, místico e abstrato, mas te digo que não é isso. Muita coisa foi desviada no propósito essencial e se misturou às terapias e filosofias da nova era. É natural misturar, eu sei! No entanto, o núcleo desse caminho precisa ser protegido para que possamos seguir um caminho adequado à nossa realidade, funciona como uma bússola que nos orienta em nossa jornada e nos coloca de volta ao trilho.
Outra coisa importante pra você saber é que yoga é atemporal e se adapta totalmente ao ser humano que se dispõe ao estudo e à prática, e não o contrário. Eu, particularmente, não concordo com as práticas de yoga que impõem um formato, um ritmo e regras que são para todos, pra mim isso não é yoga.
Yoga é que serve ao ser humano, em sua singularidade.
Gabriela Guerra